Vivemos num país extraordinário. Um país onde existe quem goste de se substituir às polícias, aos juízes, e até mesmo, pasme-se, sabe-se lá se até a Deus. Um país onde os bancos, ao abrigo de um tal ‘compliance’, uma ‘moda’ que serve para saciar a sede de inveja de alguns, se acham no direito de classificar e rotular a origem de dinheiro que é transferido para a conta de qualquer cliente, sem que para isso se perceba com base em que critério; um país onde alguns jornalistas, muitos deles mais habilitados para simples telefonistas (tal o afã com que atendem as chamadas e cumprem as ordens das suas ‘fontes’…) do que propriamente para alinhar o sujeito com o predicado, se prestam a veicular o que lhes é pura e simplesmente ditado à mesa do café ou ao telefone; um país onde o Ministério Público, à falta de motivo ou pretexto para acusar os seus ‘ódios de estimação’, utiliza e instrumentaliza quem, nos Media, suspira e se baba por um suposto escândalo, de preferência que lhe possa render uma manchete a cinco colunas, ou então uma boa peça para o telejornal da noite; um país onde, ainda na instrução, temos juízes especialistas em, à semelhança do futebol, fazer com que o campo se incline, e assim condicionar os próprios processos.

Este é o país que temos. O país onde os jornalistas acham que o lugar deste ou daquele ministro é no banco dos réus – apenas porque sim, porque lhes rende uma boa ‘cacha’; um país onde o Ministério Público, perante a falta de provas, transfere o papel de  ‘acusador’ para o prestável jornalista, em busca da inevitável palmada nas costas do chefe saciado; um país onde, à pala da imagem de serem implacáveis e imparciais justiceiros, existe quem se julgue dono de uma verdade que afinal, muitas vezes, é só a deles.

Este é o país que vamos tendo – um país a caminhar no sentido contrário ao da Democracia, e muitas vezes perante o beneplácito e o encolher de ombros dessa mesma Democracia.