A televisão pode ser a guardiã dos passados
Não sei quantos de nós damos importância ao passado. Não sei quantos acreditam que somos o que somos devido ao passado que temos. Mas sei que o passado existiu e que ele se constrói a cada segundo que passa porque, bem vistas as coisas, só existem o passado e o futuro. Cada momento vivido é imediatamente passado. Mais, o passado é o somatório de muitos passados.
A pergunta a seguir é: aprendemos alguma coisa com esses passados? E deles retiramos ensinamentos para evitar repetir erros que foram muitas vezes fatais? Definitivamente, isso não acontece como regra, e a natureza humana tem tendência para ignorar ou menosprezar o passado. O individual e o colectivo. E quando repete as mesmas asneiras, refugia-se no dito desculpabilizador “a História repete-se” ou é “feita de ciclos”.
Neste caminho, a Televisão tem um papel primordial na guarda das provas que mostram que o passado foi assim e não de outra maneira. Isto parece uma verdade, ou não? Nem sempre, digo eu. Porque a verdade das imagens não é absoluta. Depende do olhar de cada um de nós. E vivemos tempos em que se aproximam os ‘novos historiadores’ dispostos a rescrever a Verdade. Por isso é importante, enquanto é tempo, vermos a História de que, por enquanto, ainda existem imagens.
A RTP1 transmitiu dois documentários com título ‘O Pesadelo dos Ditadores’. Trata-se, segundo a sinopse, da “história não contada da Segunda Guerra Mundial, descrita pela associação secreta mais famosa da História, a Maçonaria”. Esta associação, de acordo com a narrativa da série, terá sido uma obsessão de Hitler, Franco e Mussolini, que acreditavam numa conspiração maçónica contra eles. Os maçons passaram a ser perseguidos, com a bênção da Igreja Católica em busca de poder e influência, e a Maçonaria, proibida, refugiou-se numa vida secreta. Tal como em Portugal, graças a Salazar.
Vale a pena ver estes dois episódios, perceber a ascensão ao poder dos fascistas de Mussolini, dos nazis de Hitler e dos franquistas protofascistas de Franco. Com a bênção da hierarquia da Igreja Católica. E ver as consequências. E as imagens impressionantes de multidões fanatizadas por aquele trio. Antes que novos historiadores e educadores do povo os transformem em três heróis e tentem rescrever a História.
Nota pessoal: não sou maçom. Sou independente de todas as organizações, religiões e crenças, mas gosto das suas histórias.
Tudo Menos Clássica
O objectivo do autor é simples, mas ambicioso. Inédito, penso eu. E fascinante: conseguir que sejamos melhores a ouvir. Alguma vez ouvimos com a alma ou só escutamos com os ouvidos? Os sons têm significado ou são só ruído? E porque é que a plateia de uma Ópera é praticamente preenchida com gente idosa? É para servir a terceira idade que a Ópera vai sobrevivendo mal? [Perguntas minhas].
O maestro Martim Sousa Tavares é o autor e apresentador e cativa a nossa atenção, com música mas não só, para melhor entendermos o nosso mundo. Leva-nos, não pela mão mas pelas orelhas, a entender os sons e aspectos da vida onde eles se entranham, perante a nossa falta de atenção.
O maestro tem músicos convidados e imagens para reforçar o seu discurso, debitando este com uma tranquilidade que toma conta da nossa atenção com a qual ouvimos, entendemos e aprendemos.
Ou, pelo menos, entendemos melhor algumas questões actuais ou intemporais. O maestro partindo da música clássica introduz outras artes no seu discurso. E trata de temas variados como, por exemplo, a tradição, a má educação, o minimalismo, etc.
O título do programa é ‘Tudo Menos Clássica’ e tem estado na RTP2, mas pode ver os oito episódios na RTP Play.
Sigamos a guia
Saúde-se a nova série do programa ‘Visita Guiada’ de autoria e com apresentação de Paula Moura Pinheiro. Culta e inteligente, a Paula leva-nos a locais com histórias interessantes e muitas vezes valiosas, património de um país que despreza a sua riqueza patrimonial cultural.
‘Visita Guiada’ é um programa a não perder, nem que seja nos intervalos das telenovelas. Talvez nos sensibilize para sentirmos alguma satisfação sobre o país que somos. Já restam poucas razões. Por isso aproveitemos algumas que a televisão nos oferece. Antes que desapareça. O património, não o país. Mas nunca se sabe.
Estreou em 3 de Março de 2014, portanto há 9 anos. Está na RTP2 e, na Rádio, na Antena 1.