As eleições são executadas pelas mesmas indústrias que vendem pasta de dentes na televisão.
Noam Chomsky, Linguista, sociólogo, filósofo e activista norte americano (1928 -)
Mudança de hora
Na TVI mudou a hora da transmissão do falhanço ‘Rua das Flores’, das 19:00 para as 18:30, e com o tempo reduzido a 25’ por episódio, ou menos. Não resolve o problema porque o produto é mesmo mau e pior ainda, agora concorrendo com a ‘Fina Estampa’ da SIC. Em sua substituição, no seu horário, estreou ‘Hora de Verão’, uma espécie de ‘magazine cor-de-rosa’ que não aquece nem arrefece, apresentado, aparentemente sem vontade, por Nuno Eiró e Sara Sousa Pinto. Naturalmente está condenado a soçobrar no confronto como o imbatível ‘Preço Certo’ da RTP1.
De qualquer modo, a ‘Hora de Verão’ é mais suportável do que a ‘Rua da Flores’, apesar de ter o ar de ter sido inventado a correr, para tapar o buraco, e dos apresentadores se apresentarem com um certo ar ‘blasé’, que se pode atribuir ao facto de trabalharem também às 7:00 da manhã e, portanto, estarem um pouco sonolentos ao fim da tarde. Mas qualquer coisa serve para afastar a ‘Rua das Flores’, mesmo que não tenha grande audiência. Do mal, o menos, e castiga-se menos o espectador.
Penso que a TVI podia investir um pouco mais, apresentando um cenário um pouco mais inovador, mas, acima de tudo, apresentando caras diferentes. Mas não: lá estão as duas comentadoras do ‘Big Brother’ que não trazem nada de novo: as mesmas expressões, os mesmos risos, as mesmas poses. Além de ser um ‘déjà-vu’ fica a ideia de que não há imaginação ou que na TVI existe um clã impenetrável.
Uma coisa é certa: os (poucos) espectadores agradecem a mudança da hora da obra ‘dada à luz’ por Cristina Ferreira.
Um eixo trepidante
Já aqui escrevi sobre um clássico do debate de ideias (maioritariamente políticas), transmitido actualmente pela CNN Portugal, e que hoje é conhecido pelo seu já terceiro nome ‘O Princípio da Incerteza’.
Mais ou menos do mesmo formato, a SIC Notícias tem na sua grelha o ‘Eixo do Mal’. Mais, porque também é um programa de debate, e menos, porque o estilo é bastante diferente.
O ‘Eixo do Mal’ é apresentado por Aurélio Gomes e nele participam Clara Ferreira Alves, Daniel Oliveira, Pedro Marques Lopes e Luís Pedro Nunes.
Enquanto no programa da CNN o debate decorre num ambiente de tranquilidade, em que cada um dos intervenientes expõe o que pensa com calma e sem alterar a voz, no ‘Eixo do Mal’ não é bem assim. Os quatro intervenientes que, percebe-se, dificilmente têm a mesma visão do mundo, tentam convencer-se uns aos outros de que a razão está do lado de cada um e, raramente, de mais do que um. Quando há divergências, a argumentação é normalmente feita com entusiasmo, algum humor, de pelo menos um deles, mas sempre nunca dando o braço a torcer. Não me lembro de alguma vez ter visto um dos quatro companheiros de debate dar razão a um outro ou dar razão sem, pelo menos, um ‘mas’, o que, aliás, é muito português. O ‘mas’ é das palavras mais usadas quando alguém decide dar razão a outra pessoa ou quando dá uma opinião positiva sobre qualquer obra, até mesmo de construção civil: “tens razão, mas…”! É uma expressão muito usada nas discussões lusitanas. O português tem dificuldade em aceitar a opinião alheia a cem por cento. Sente que perde a razão se ceder totalmente, perante a argumentação alheia. Complexos!
Uma das que características do ‘Eixo do Mal’ é que a troca de ideias se transforma, muitas vezes, numa discussão acesa entre os participantes, um contra outro, dois contra dois, todos contra um ou todos contra todos, o que é interessante de seguir principalmente quando se percebe o que dizem ou o que querem dizer. É que, quando acontecem, e acontecem muitas vezes, discordâncias mais profundas, a discussão transforma-se frequentemente num atropelar de argumentos, num registo vocal bastante alto, com todos falando ao mesmo tempo. Chega-se ao ponto de falarem todos, uns por cima dos outros. Percebe-se o entusiasmo, mas não se percebe o que dizem, o que diz cada um. O espectador fica sem entender e, muitas vezes, quando a discussão a quatro vozes se prolonga, surge a tentação de mudar de canal. No entanto, apreende-se e aprende-se sempre qualquer coisa.
Não sendo representantes de partidos, como no programa da CNN, percebe-se bastante bem o campo de ideias que cada um professa, desde uma esquerda bem puxada à esquerda, até uma direita que se apresenta civilizada, existindo ainda umas pinceladas intrusas ‘off stream’.
ON
Na RTP3, existe uma pequena joia semanal, às terças-feiras, com apenas 5’ de duração e que nos mostra 100 livros, um por semana, que são obras importantes para conhecer, de vários géneros. Chama-se ‘Volta ao Mundo em 100 Livros’. Da autoria da jornalista Alexandra Lucas Coelho, que também apresenta, divulga, de forma justificada, autores de todas as partes, etnias e géneros, numa paridade de homens e mulheres, da Antiguidade até ao séc. XXI, num cruzamento de clássicos e revelações. Para quem gosta de livros é um excelente guia. Quem não gosta, decerto passará a gostar.
OFF
Não é boa para ninguém a polémica que estalou entre Judite Sousa e a CNN. Não dignifica ninguém, pelo contrário. As acusações de Judite são graves, a defesa da TVI, pela voz de Nuno Santos, pareceu-me forte. Assim: é sempre mau para a jornalista porque transmite uma vontade de vingança e de certa forma uma ‘traição’, mesmo que seja verdade o que ela afirmou nas redes sociais, sem comunicar à TVI. É mau para esta porque, mesmo que tenha razão, em Portugal, para muita gente, suspeito uma vez, suspeito toda a vida, mesmo inocente. Pede-se discrição.