VAR não quer dizer Vamos Acabar com o Ruído nem é esse o objectivo porque o futebol vive dos sons e precisa continuar a viver dos sons.
Sons bons: o festejo, o incentivo, o golo, os hinos das hordas que vão em paz.
A figura do VAR foi criada para reduzir o ruído resultante de erros de arbitragem grosseiros que povoaram a história do futebol ao longo de muitas décadas. Não é uma fórmula infalível, mas mitigou a sensação dos ‘roubos de igreja’.
Tantos anos a tocar os sinos. Tantos anos a tocar a rebate.
Nunca se conseguirá alcançar o clímax do ‘erro nulo’, porque essa metáfora é coisa de marcianos e porque as ‘leis do jogo’, isto é, o manual pelo qual os árbitros se regem, comportam nelas próprias um grau de subjectividade que é resolvido pela “interpretação do árbitro” — e, portanto, nem tanto ao mar nem tanto à terra, nem purismos nem assaltos à mão armada.
O VAR é útil e quando aqui e ali ele não é requisitado sentimos a diferença. Primeiro, estranhou-se, depois entranhou-se e agora já o vemos como indispensável, embora ainda se oiça por aí coisas do tipo: “O VAR tira emoção ao jogo”. E eu pergunto: emoção ou aldrabice?
A existência do VAR já pouco se discute e o debate deve centrar-se no seu aperfeiçoamento, que passa naturalmente por duas coisas: formação técnica e grau de isenção capaz de tornar os (video)árbitros imunes ao ambiente de pressão que, no caso do futebol português, é brutal e insustentável. E é preciso denunciá-lo, desmascará-lo, torná-lo ineficaz.
Na sua componente tecnológica, o VAR apresentou um importante ‘upgrade’ no Mundial do Qatar. Tecnologicamente, o caminho faz-se.
Onde, em Portugal, o caminho não se tem feito é no reconhecimento do erro por parte do Conselho de Arbitragem, como aconteceu recentemente na Premier League, com equívocos graves no Brighton-C. Palace e no Arsenal-Brentford. Os árbitros são muitas vezes vítimas (e há que protegê-los), mas a corporação tem de perder a vergonha de assumir os próprios erros.
Em tese, a figura do VAR faz bem ao futebol. O que não faz bem é existirem forças externas a utilizar expedientes para que os árbitros, por medo, no terreno ou na Cidade do Futebol, não façam avaliações estritamente técnicas. Isso é inaceitável. E este é o tema que importa não ignorar.