A partir de hoje, curiosamente no próprio dia em que a segunda série do Tal&Qual inicia o seu terceiro ano de publicação, por motivos que se prendem única e exclusivamente com a minha vida profissional, vejo-me ‘obrigado’ a deixar esta equipa fantástica que, contra ventos e marés, perante a descrença e o recalque de alguns, mas também contando com o entusiasmo e o estímulo de tantos e tantos, soube provar como ainda se pode fazer jornalismo simultaneamente livre, ousado e rigoroso no nosso País.
Faço-o com natural e mais do que justificada pena, mas com o óbvio orgulho e também vaidade (porque não dizê-lo?!) por ter contribuído para que este jornal voltasse para junto dos muitos leitores que sempre teve, desde quando, há 43 anos, um grupo de jornalistas liderado por Joaquim Letria, que hoje nos dá a honra de figurar como ‘founding father’ no nosso cabeçalho, soube conceber e criar um projeto ímpar na Imprensa portuguesa, em que a palavra sempre foi livre.
Independentes, sem outro financiamento que não seja o obtido nas vendas e na publicidade, este T&Q que conseguimos ressuscitar após 13 anos de ‘morte física’ para o qual foi empurrado, tanto por incompetência como por temor aos poderosos, está vivo e boa saúde. E pronto, estou certo, para continuar a incomodar os poderzinhos que por aí pululam, para fazer-lhes a vida negra, e para não ter medo de contar o que eles não querem de todo que se saiba.
Foram, acreditem, dois anos maravilhosos – vivos, plenos de êxitos, que muitas vezes superaram as melhores expetativas que possuíamos. Dois anos em que tive o privilégio de fazer parte de uma equipa inigualável que, com o seu trabalho, fez tábua-rasa daquele pessimismo agoirento tão portuguesinho, e que, em contraciclo, com uma pandemia e os ‘salpicos’ de uma guerra pelo meio, soube, com um profissionalismo e rigor únicos, conceber e pôr à disposição dos nossos muitos leitores um jornal que, como eu não me canso de dizer, conta a vida tal e qual ela é
Hoje, ao deixar de ser acionista e administrador deste jornal, resta-me agradecer a confiança de todos quantos, sem exceção, acreditaram neste projeto e que, em Dezembro de 2020, responderam ao desafio que lhes dirigi. Faço-o assim na pessoa do Jorge Morais, que ao fim de dois anos de direção dará o seu lugar ao Bruno Horta, passando assim a ocupar o lugar que até agora ocupei nesta casa.
Uma última palavra, mais do que justa, dirigida ao Marco Galinha. Sem ele, sem a sua disponibilidade e persistência em encontrar a ´fórmula’ que nos permitiu voltar a utilizar a marca Tal&Qual, este título teria continuado a ganhar pó e teias de aranha nas catacumbas para as quais os incapazes o atiraram.
Até um dia destes!