A televisão coloca o intelecto de quarentena; mudar de canal não resulta, é mais instrutivo desligar
Joni Baltar, pensador brasileiro
‘La rentrée’ – Programação
Com o final de Agosto, e mais por hábito do que por regra ou lei, atinge-se o fim da baptizada ‘silly season’ [estação maluca], chamando de novo as pessoas aos seus comportamentos considerados normais e ‘ajuizados’. Na ‘silly season’, muitos erros, asneiras ou comportamentos estranhos são atribuídos ao facto de os tempos serem ‘silly’ e, portanto, o que é anormal passa a ser normal e o que é errado pode ser integrado nos comportamentos aceitáveis. É nesta época que os políticos, mesmo sem se penitenciarem, acabam por ser absolvidos. Ou parecem que o são. Estamos assim na antecâmara de novos tempos, embora não necessariamente de tempos novos.
O início de uma nova temporada é baptizado com uma elegante palavra francesa, embora não só em televisão, ajustando-se assim à afirmação de Eça de Queiroz de que “Portugal é um país traduzido do francês em calão” [in conto ‘Francesismos’, artigo]. É a chamada ‘rentrée’ e dela se vai falando na comunicação social mas, principalmente, nas redes sociais. Isso serve para alimentar a natural curiosidade dos espectadores que nunca deixaram de ansiar por novos produtos mais ou menos em Setembro. Trata-se de um hábito que vem dos primeiros tempos da televisão em Portugal. Era o mês em que se apresentava o que se chamava ‘mapa-tipo’ e, depois, se rebaptizou como ‘grelha de programas’. Em todas as ‘rentrées’ se esperavam novidades, novos programas que, normalmente, duravam até Março ou Abril do ano seguinte.
Devo notar que houve épocas em que a diferença entre estações do ano se diluiu e portanto não se sentia o dobrar da esquina para uma ‘rentrée’.
Se acompanharmos os acontecimentos, as notícias, as ‘fake news’ e outras matérias, a primeira conclusão é de que a RTP corre numa pista à parte ou joga num campeonato independente: muito antes da ‘rentrée’ estreou os concursos ‘Porquinho Mealheiro’ e ‘Faço Tudo Por Amor’ e a segunda época da novela ‘Pôr do Sol’, na RTP1. Não tenho conhecimento que outras estreias estejam previstas a curto prazo. ‘O Preço Certo’, claro, continuará como uma espécie de ‘abono de família’. Fez portanto uma ‘rentrée’ prematura e discreta, por enquanto sem grande sucesso nas audiências. Com o regresso de férias pode ser que os números melhorem um pouco.
Já a RTP2, com uma filosofia de programação diferenciada, mais apostada em conteúdos culturais e de qualidade e dedicando várias horas todos os dias ao público infanto-juvenil, não é chamada para esta ‘liga’. Seria importante que os dedos apontados à falta de serviço público se transformassem em olhos virados para a RTP2.
Nos canais privados vemos a SIC (há 43 meses o canal mais visto) anunciar um formato mais do que visto (o ’Agricultor’) para combater o ‘Big Brother’ que estreia nova temporada na TVI com promessas de novidades e em dose dupla. Nos dias de semana, SIC e TVI transmitirão os habituais resumos e comentários. A acompanhar os dois ‘reality shows’ e preenchendo o ‘prime time’ teremos, adivinhem… telenovelas. E nas tardes, depois dos horários actualmente da Júlia e do Goucha, adivinhem… telenovelas. A fechar a noite teremos, adivinhem… telenovelas!
As telenovelas são a ‘artilharia das programações’ diárias, e é com elas que SIC e TVI lutam por facturar mais nos ‘slots’ mais valiosos.
Outros horários que têm mantido alguma disputa, maioritariamente com vantagem para a SIC, são os da manhã e os da tarde. Não está nada ainda anunciado, mas não me admiraria que em Setembro as manhãs e as tardes da TVI sofressem uma revolução, justificando a afirmação de José Eduardo Moniz de que é preciso inovar uma televisão que vive há 20 anos com os mesmos critérios.
A TVI tem duas cartas que vai jogar para ganhar: a telenovela ‘Festa é Festa’, que vai decerto durar ainda bastante tempo, e duas edições do ‘Big Brother’, anunciado como apresentando alterações que Cristina Ferreira acredita serem razão para conquistar mais espectadores e a liderança.
Mas a TVI tem ainda a vitória garantida nos seis dias em que transmitirá jogos da ‘Champions’.
Na próxima semana falarei sobre informação. E não só.
ON
Quando a verdade do interior de alguém é respeitada e comanda a sua vida, e quando essa verdade é o fruto de valores de justiça, solidariedade, companheirismo, respeito pelos outros, gosto pela vida, essa pessoa merece o nosso aplauso e a nossa admiração.
No programa da RTP1 ‘The Voice Gerações’ no grupo de ‘mentores’ esteve presente um enorme nome da música portuguesa, que merece todos os aplausos, toda a admiração e homenagens.
Ela teve a humildade de aceitar o papel de ‘mentora’ enriquecendo grandemente o programa, mas, acima de tudo, dando um exemplo de humildade, de modéstia, sem nunca abdicar daquilo que lhe é inato: o seu talento, que ela, também com talento, tão bem tem sabido gerir. Foi um prazer enorme vê-la integrar um grupo de uma geração completamente diferente, sem paternalismos e sem falsas modéstias, sempre com a sua verdade interior que lhe forma o carácter. Parabéns Simone de Oliveira!
OFF
Há pessoas que julgam já terem chegado a um patamar que lhes permite dizer tudo sem entender o valor das palavras. Não entendem, a não ser que alguém lhes explique, que os sentimentos ou pensamentos de alguém não são menos válidos se, para se exprimir, usar frases ou declarações de outras pessoas. Pelo contrário, a inteligência pode levar à escolha da citação certa para dar força ao pensamento pessoal. Dizer que essa pessoa apanhou uma frase feita e publicou um ‘post’ e que “como não foi escrito por ela, não tem crédito” é uma enorme asneira e revela um lado feio do carácter de quem tal afirma. Tive pena.
E sujeito-me a não ter crédito ao afirmar: ‘não suba o sapateiro além da chinela’. Também é uma frase feita que apanhei.