Há algo absolutamente reconfortante na televisão: o pior está sempre por vir
Jack Ludlow Gould, jornalista e crítico de televisão americano (1914-1993)
RTP – Um bom esforço
A RTP tem feito um louvável esforço de investimento na ficção portuguesa, revelando novos valores, incluindo na realização. Nessa linha, co-produziu uma série a que deu o título genérico ‘Contado por Mulheres’, um projecto de 10 telefilmes, baseados em obras da literatura portuguesa, com a realização entregue a dez mulheres de gerações diferentes, que se estreiam assim atrás da câmara, com excepção de Daniela Ruah que já realizou, nos Estados Unidos, um episódio da série de que é também protagonista – ‘Investigação Criminal: Los Angeles’.
Julgo que o nome ‘Contado por Mulheres’ foi adoptado com a melhor das intenções. Todavia, nos tempos em que vivemos, talvez possa ser criticado, por poder ter uma leitura dúbia para algumas almas radicais. Tem havido, ao longo dos últimos anos, uma justa luta para que se aceite a igualdade de género e este título parece querer sublinhar a diferença. Quererá dizer que afinal as mulheres também são capazes de realizar? Mas isso seria sintoma de um certo paternalismo e que penso que as mulheres dispensam. Mas mesmo que não seja essa a intenção, é normal que quem leia o título possa pensar que se trata de uma guerra de géneros, separando o que é contado por mulheres do que é contado por homens, porque terão qualidade diferente.
Ou se calhar eu estou a ver mal…
Visionei dois episódios e não fiquei entusiasmado. Note-se que não sou crítico de cinema, mas julgo que partilho de um gosto médio dos espectadores. Com esse pressuposto, num caso achei a história fraca a partir do último terço, e faltou intensidade dramática com fraca participação das figuras secundárias. A personagem principal tem um bom desempenho. A realização mantém-se coerente. No outro caso a história era boa, mas faltou, na narrativa, a construção do verdadeiro ambiente de tensão que justifica o conflito. Uma fotografia excelente, mas as interpretações muito teatrais, muito declamadas. E muito exagero no retrato de dois personagens transformando-os em dois borrões caricaturais.
Mas estas experiências da RTP devem continuar porque acredito que quem nelas participa tem talento e tem um bom sentido de autocrítica. E também porque é da prática que nasce em muito a competência e a eficácia.
A cobertura do Mundial de futebol 2022 não se tem limitado à transmissão dos jogos. Estão no terreno alguns enviados especiais que se encarregam de fazer ou tentar fazer várias reportagens. Não apenas no final dos jogos, junto dos adeptos, mas também em vários ambientes que se vivem em vários recantos das cidades do Qatar. Quero com isto dizer que um jornalista que esteja no Qatar, e que não seja para fazer o relato dos jogos, ou apenas as reacções dos adeptos, tem de ter imaginação e curiosidade jornalística para enviar para o seu canal material relacionado com a competição, mas diferenciado, e com regularidade. Ao contrário do que possa parecer, nestes ambientes, por vezes é difícil desencantar histórias que valham a pena contar, sem nos repetirmos.
Dito isto, reconheço que se tem evidenciado, pelo esforço e pela qualidade do seu trabalho, a jornalista, da CNN Portugal, Margarida Neves de Sousa que é para mim o melhor enviado ou enviada especial ao Qatar.
Faço esta nota com redobrada satisfação porque eu e o seu pai fomos muito amigos e parceiros de muitos momentos. O José Neves de Sousa foi um grande jornalista e, portanto, não admira que a Margarida tenha um bom ADN.
Escrevi há 15 dias que Cristiano Ronaldo estaria neste Mundial totalmente livre de qualquer ligação ao Manchester United (lembram-se?), podendo assinar contrato com qualquer outro clube. Não sou vidente, mas acertei.
E aí está ele, livre que nem um passarinho, semeando empenho e boa disposição. E também atento está o mercado a funcionar, oferecendo a Ronaldo talvez o seu contrato mais chorudo em final de carreira. Fala-se em 500 milhões de euros!
Uma coisa, no entanto, é certa: Ronaldo está, de alma e coração, no Mundial e a sua prioridade não é, para já, um contrato. Ele sente que está a representar Portugal e que isso é uma responsabilidade, mas também uma honra. Por isso foi muito forte a sua imagem a ouvir o hino nacional, emocionado, com os olhos à beira da lágrima, logo no primeiro dia. Aguardemos que as forças não lhe faltem e que o ajudem a pôr em prática o seu indiscutível talento, contribuindo para o esforço colectivo de que necessita a selecção para brilhar neste Mundial do Qatar. E que não amue quando o golo de Bruno Fernandes seja atribuído a… Bruno Fernandes. A Bruno o que é de Bruno.
ON
Na CNN Portugal, existe um programa que merece ser seguido pela forma como as matérias importantes da realidade nacional são analisadas de forma muito clara, compreensível. As opiniões são apresentadas com tranquilidade, não há gritos, não há sobreposição de intervenções, a linguagem de cada comentador é extremamente simples e, portanto, ao alcance de qualquer espectador sem que este precise de ser formado em ciências políticas.
Trata-se do ‘Contrapoder’ que é transmitido aos sábados por volta das 23:00.
O seu moderador é Anselmo Crespo e os dois comentadores/analistas residentes são Sérgio Sousa Pinto e Sebastião Bugalho.
OFF
Não sei se os leitores conhecem a expressão ‘racord’ e o que ela significa. Simplificadamente quer dizer que uma cena deve concordar nos pormenores com a imagem anterior. Por exemplo, se o personagem está de smoking numa cena, na seguinte, se for continuação, deve manter o smoking.
Num episódio da série ‘Contado por Mulheres’ detectei uma grave falha de ‘racord’: a personagem está no hospital com um largo adesivo na face direita, devido a um acidente que lhe deixou uma cicatriz, e na cena seguinte, em que já está em casa sem adesivo, tem a cicatriz na face esquerda. E passados dias, já quase cicatrizada, volta a aparecer na face direita.