O ano de 2022 viu ser dado à luz um livro oficial, da responsabilidade da Comissão Parlamentar dos Negócios Estrangeiros, sobre a questão de Olivença. Um livro que visava (visa) pôr termo aos tabus que rodeiam a questão, não só os silêncios, mas os extremismos, a xenofobia, o nacionalismo fascizante. Conforme foi dito e reafirmado, e consta nas páginas do livro em questão (‘Olivença na História’), trata-se de colocar Olivença, com toda a normalidade, nas bocas do mundo. Reivindicando-a, naturalmente. Mas com a maior naturalidade.
É urgente que Portugal coloque algumas questões ao Estado espanhol. Por exemplo, deve protestar contra o facto de os oliventinos não estudarem a sua própria História nas escolas, e de acharem normal que na sua toponímia constem designações como ‘Hernán Cortés’, ‘Francisco Pizarro’. Em contrapartida, não se encontram os nomes de personagens oliventinos, como, por exemplo, Aires Tinoco (célebre navegador da época henriquina, século XV), Vicente Lusitano (músico de renome universal, século XVI), ou Caetano José da Silva Souto-Maior (grande poeta do século XVIII, corte de D. João V). Aliás, quase nenhum oliventino conhece estes seus presumíveis antepassados…
Este e outros pormenores demonstram que não está a ser feito o suficiente em Olivença para restaurar a sua verdadeira memória. Que Portugal levantasse este tipo de questões era o mínimo que se poderia esperar numa Cimeira Ibérica… ou, antes, luso-espanhola.
Mas não. Nesta cimeira de 16 de março de 2023, ainda não. Como nos 200 anos anteriores à publicação do livro supracitado. Quanto tempo deverá passar até o assunto ser falado com normalidade, sem tabus, como o Estado nele se propôs?
Decididamente, falta rumo em muitas das nossas políticas.