Sou leitor do nosso jornal mesmo numa aldeia pequena, com sacrifício. O que me leva a escrever estas linhas é mais o meu desespero pelos 230 esquecidos (as) que jamais se lembram daqueles que tanto sofreram e sofrem.
A 09/01/67 dei entrada na serra da Carregueira e ainda nesse ano meteram-me num barco muito grande: vi o cais atulhado com os que partiam, e muitos não regressavam vivos, e com os que vinham dizer-lhes o último adeus. Durante muitos dias, só vi mar, tanto mar, até que cheguei a Luanda. Dali já estava um transporte à nossa espera para nos levar para o C. I. Comandos no Cazenga e daí para o Leste de Angola.
Hoje tenho uma reforma de (MER**), tenho quase 76 anos e ninguém se lembra daqueles que vieram cegos, sem pernas, sem braços, e daqueles que só vegetam com muitas dores no corpo. Será que os poucos que ainda vivem até à morte não terão direito ao salário mínimo estipulado por este pais tão pequenino? Há palavras que o Tio EÇA disse e escreveu e se o dissesse hoje tinha razão.
Tenham muita saúde e sorte para continuar a dizer a verdade pura e dura.