DIRECTOR: BRUNO HORTA  |  FUNDADOR: JOAQUIM LETRIA

Ministros do Desambiente

Depois de o ministro do Ambiente José Sócrates ter dado mão livre e mais umas décadas de exploração à cimenteira que continua a profanar a Arrábida, eis que o ministro do Ambiente Duarte Cordeiro autoriza o abate de quase dois mil sobreiros numa zona “protegida” do Sudoeste Alentejano para que a EDP possa ali construir uma central eólica.

Se é para isto que servem os ministros do Ambiente, era mais honesto chamar-lhes ministros para a Destruição dos Parques Naturais. Porque parece que é para isso que eles lá são postos.

Desde 2011, os sucessivos Governos autorizaram (ou promoveram?) o abate de 35 mil sobreiros: Assunção Cristas e Moreira da Silva (17 mil árvores), depois Matos Fernandes e agora Duarte Cordeiro (18 mil) especializaram-se nesse exercício macabro. Em 60 por cento dos casos, a destruição de montado de sobro foi justificada com a instalação de projectos de produção de “energia limpa”.

É curiosa esta “lógica” de lesar o ambiente em nome da protecção do ambiente. Eu pergunto: ¿será que as centrais eólicas têm mesmo de ser construídas em áreas de reserva, em parques naturais classificados ou à custa de espécies protegidas?

Nos últimos quinze anos, o Governo da República conseguiu matar 35 mil sobreiros – praticamente cinco por cento do total nacional de 720 mil pés. Para além dos parques energéticos, outros projectos têm ocupado o seu lugar: estradas e vias férreas, fábricas e empresas de vários ramos.

Se o Decreto-Lei n.º 169/2001 faz da protecção do sobreiro uma ladainha e proíbe ao simples mortal a mutilação, a danificação, a poda, o desbaste ou o corte de uma única árvore, ¿a que título pode o senhor ministro do Desambiente mandar apagar do mapa um montado inteiro para que uma empresa lá instale o seu negócio, por mais “limpo” que seja?

Eu explico: é que o mesmo Decreto-Lei n.º 169/2001 reduz a zero aquelas nobres intenções ao abrir excepção para projectos “de imprescindível utilidade pública e de relevante e sustentável interesse para a economia”, desde que a empresa beneficiada “compense” a barbaridade plantando umas quantas árvores em terrenos que possua, muitas vezes a centenas de quilómetros de distância da área lesada. ¿Porque não começam, então, por instalar lá os seus negócios, deixando em paz as espécies protegidas, as áreas de reserva e os parques naturais classificados? Também aqui a explicação é simples: o valor dos terrenos de montado é tentador. E a carne é fraca.

O ódio à natureza, a repulsa pelo campo, o desdém pela província e por tudo o que é rústico têm feito escola por essa Europa. Senhoritos decretando a destruição dos equilíbrios naturais a partir dos seus gabinetes citadinos são hoje a classe dominante. Ainda agora, na Inglaterra, o Departamento de Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais, ocupado por burocratas “politicamente correctos” que nunca puseram o pezinho fora do asfalto, foram apanhados a regulamentar tudo o que mexe no campo – e de tal maneira o fizeram que, se não há quem embargue o disparate, a vida agrícola, pecuária, venatória e cinegética pode ser dada como extinta no Reino Unido. Sem consultarem agricultores, criadores, guarda-rios, ornitólogos ou entidades florestais, os senhoritos do Desambiente embrulharam a vida rural inglesa numa gigantesca teia de burocracia e idiotia, pondo em risco não apenas a economia das terras interiores e largos milhares de postos de trabalho, mas também a harmonia rústica e muitas espécies vegetais e animais.

¿E tudo isto em nome de quê? Do ambiente deles, pois claro. E do cifrão.

Jorge Morais

Carta da Aldeia

Jorge Morais